Giros Filmes

Dez anos após reformulação, Giros Filmes se prepara pra bater seu recorde em volume de projetos

Publicado por Mariana Toledo, no TelaViva, no dia 19/12/2025.

Neste ano, a Giros Filmes completou 28 anos de atuação no mercado audiovisual brasileiro. Comandada por Belisário Franca, Bianca Lenti e Maurício Magalhães, a produtora construiu uma trajetória sólida e diversa – são mais de 70 obras exibidas em canais e plataformas nacionais e internacionais e quase 30 prêmios conquistados – se destacando pela produção de conteúdos que combinam entretenimento, relevância social e forte identidade brasileira.

O mercado audiovisual mudou muito desde que a Giros surgiu – a produção evoluiu, os hábitos de consumo foram transformados, as políticas públicas para o setor foram alteradas e, claro, teve a pandemia, que impactou fortemente o mundo como um todo e tem seus efeitos sentidos até os dias de hoje. Tudo isso, junto da instabilidade característica do mercado audiovisual, torna o marco de 28 anos de história da empresa ainda mais relevante. Para Belisário Franca, de fato o mercado mudou muito nesses 28 anos e continua mudando – hoje, numa velocidade ainda maior. Mas ele considera esse cenário instigante. “Antes, tínhamos poucas janelas para apresentar nosso trabalho. É difícil, sim. A política pública podia ser melhor, claro. Mas se pensarmos que antigamente não tínhamos sequer uma organização do setor… Fomos amadurecendo enquanto produtores, realizadores e no relacionamento internacional. Eu sigo otimista. Agora, ressalto que temos que ser profissionais e ter gestão, além de estarmos sempre ligados nas tendências e adaptá-las ao que nos interessa enquanto realizadores. Vejo o momento atual mais como oportunidade do que como crise”, afirmou o diretor geral e fundador da Giros em entrevista exclusiva para TELA VIVA.

Bianca Lenti, diretora de criação, acrescentou: “A Giros é uma produtora vocacionada para contar histórias – e histórias brasileiras. Temos uma enorme curiosidade a respeito de formatos, então estamos sempre investigando, e somos muito apaixonados pela cultura e pela expressão do povo brasileiro – e tudo isso é infinito. Quando a gente junta a curiosidade pelos vários formatos – daí a gente ter saído do documentário clássico para abraçar a dramaturgia, e esse foi um movimento muito difícil, porque leva tempo para você se reposicionar e para o mercado entender que você faz as duas coisas, e faz bem – com a infinidade de histórias que existem para serem contadas no Brasil, isso nos transforma em um celeiro de diversidade. É claro que, quando o mercado ajuda, a gente performa mais. Mas acho que estamos há 28 anos fazendo isso e resistindo porque, em primeiro lugar, não sabemos fazer outra coisa. E, depois, porque ainda tem muita história para contar”.

Mudança de rota

A Giros passou por uma virada de chave em meados de 2015, marcada especialmente pela reformulação financeira e de gestão, com foco em ampliação no volume de produções, sobretudo em ficção e dramaturgia. Além disso, nessa época chegou ao time Mauricio Magalhães, inicialmente como sócio e, posteriormente, em 2020, assumindo a posição de CEO. Com a mudança de rota, Bianca e Belisário passaram a dedicar mais tempo à produção criativa, assumindo processos como o mapeamento e a seleção de roteiros e argumentos e atração de talentos, e ainda à produção executiva, acompanhando produções para cumprimento de planejamento orçamentário de cada projeto e firmando parcerias com produtoras, canais e plataformas.

Outra mudança importante foi a diversificação das fontes de financiamento para projetos, incluindo leis de incentivo, editais, patrocínios de marcas e investidores. A reformulação levou em consideração algumas projeções, como o fato de que a indústria criativa brasileira passava por um processo de profissionalização acelerado e notava-se exigências técnicas cada vez maiores dos investidores, tanto públicos quanto privados, e também da audiência; que o cinema passaria por uma quarta onda de evolução técnica, e que chegaria o momento da sua internacionalização; e que a cultura é parte essencial do soft power brasileiro. O Brasil, em algum momento, voltaria a estar “na moda” para os brasileiros e para o mundo. O cenário era negativo em 2016, mas a projeção era de que a “marca Brasil” voltaria a ser valorizada em algum momento. Pode-se dizer que a Giros foi bastante precursora nesse pensamento, uma vez que hoje, todos os eventos de mercado trazem discussões que giram em torno dessa mesma questão: levar a cultura brasileira para o mundo por meio da cultura e do audiovisual produzido aqui. Além disso, hoje, fala-se muito da importância da visão do audiovisual como indústria – sacada que a Giros também teve lá atrás.

Do ponto de vista do negócio, Maurício Magalhães relembra: “O audiovisual já estava cada dia mais virando indústria. Aquele mundo de ‘uma câmera na mão e uma ideia na cabeça’ teve um sentido lá atrás, mas não era mais suficiente. Começamos a estudar muito, até experiências internacionais de outras produtoras que estávamos vendo e de nossos produtos, com os quais fizemos alguns experimentos, e levamos tudo isso muito a sério. Em 2016, o streaming era uma palavra quase que inexistente – para evidenciar a velocidade com que tudo mudou desde então. Naquela época, a gente já mapeava uma certa instabilidade das políticas públicas, que piorou no governo Bolsonaro e que, nesse governo, apesar de ter muita intenção, há pouca praticidade. Acho que nos preparamos para esse momento. Talvez nosso grande avanço tenha sido a criação da área de dramaturgia. Até então, a produção era centralizada em documentários. Intensificamos esses novos projetos nos últimos anos e, agora, colhemos todos esses frutos”. Como exemplo de produtos recentes, o CEO citou “Sexa”, com direção e protagonismo de Glória Pires, que estreou recentemente nos cinemas, e “Clube Spelunca”, série de comédia dirigida por Silvio Guindane e produzida pela Giros em coprodução com a Warner Bros. Discovery para a HBO Max.

“Nós agimos com muita estratégia. Destaco ainda o desenvolvimento do nosso hub de fornecedores no Brasil inteiro: criamos uma rede de profissionais de cada área da cadeia produtiva, como roteiristas, fotógrafos, produtores e mais. Temos projetos no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, por exemplo. É uma capilaridade independente do tamanho dos projetos. Em resumo, nós estreamos no streaming, montamos o hub, desenvolvemos projetos regionais e tivemos uma estratégia bem estabelecida – e sempre torcendo para que essa volatilidade diminua muito para os próximos anos”, pontuou Magalhães.

Estrutura e dinâmica atual

Hoje, a estrutura da Giros conta com cerca de 30 pessoas fixas, divididas por departamentos como criação, produção, finalização, financeiro, administrativo e gerência de projetos. E, neste momento, são mais ou menos 20 projetos sendo executados em diferentes etapas de produção, desde o desenvolvimento até a finalização, de diferentes gêneros, formatos e temáticas – um número bem grande para uma única produtora.

Franca reflete: “O ciclo do audiovisual é longo. Pode variar de dois até cinco, seis anos. Então nunca estamos fazendo só um projeto – o que é muito bom, porque não ficamos com aquela síndrome de puerpério, muito comum entre os realizadores, quando acabamos um projeto. Hoje mesmo estamos abrindo set de uma série nova. Isso é bom, porque nos coloca sempre em movimento, sempre produzindo. Mas, para isso, tem que ter muita tranquilidade e clareza. Nós três somos muito disciplinados para poder ter não só o critério da escolha, mas também o da realização, além de dar base e segurança para as equipes tocarem”.

Já naquele momento da reformulação, cerca de dez anos atrás, a produtora se perguntou como seria sua capacidade de escalar e dar conta de diversos projetos simultaneamente. “Isso virou uma equação. É como se a gente tivesse uma holding e cada projeto vira uma empresinha numa infraestrutura maior, onde a gente suporta essa série de projetos que fazemos, com o apoio quase matricial de cada um deles. Cada projeto tem sua estrutura, e fomos sofisticando o desenvolvimento da cadeia produtiva para ter condições de fazer muita coisa”, explicou Magalhães. Nesse sentido, ele contou que a produtora adotou, como hábito mesmo, uma gestão muito rigorosa de cronograma e planejamento. E, assim, ela consegue trabalhar com diferentes formatos, como documentários, filmes e séries de dramaturgia e até conteúdos corporativos. “A gente não faz publicidade, mas neste ano, por exemplo, entregamos o filme dos 120 anos da Gerdau. Não deixa de ser uma história brasileira. O que costura tudo é isso: são histórias brasileiras”, definiu. A produtora já tem entregas previstas para 2026 e, nesse momento, já olha para 2027 e 2028. “Esse ciclo de longo prazo faz parte dessa visão de gestão que temos exercitado”.

Audiovisual como indústria

Antes de fazer esse importante planejamento em 2015/2016, a empresa já acompanhava os mercados de outros países. “Isso que chamamos hoje de soft power, no qual outros países viajam o mundo através da cultura e da linguagem do audiovisual, nós achamos que a Nova Zelândia e a Austrália já fizeram muitos anos atrás. Com o streaming, isso se multiplicou, e a gente já via como uma tendência – pelo conceito de globalização que a tecnologia permitia e também pelo que vimos dessas estratégias muito bem definidas de outros países”, revelou o CEO. “Entendemos o potencial que o país tinha. Fez parte do desenvolvimento, da nossa visão estratégica, associado ao que vimos no mundo, e tentando entender como a tecnologia permitia o crescimento desse setor”.

Franca reforça que, de lá pra cá, a importância do setor audiovisual no PIB do país só cresceu. Os dados comprovam. “Agora, é importante termos produtoras fortes, maduras, que pensem com essa pegada, e que isso seja uma roda sempre girando. Somos geradores de empregos, temos uma economia própria. A economia da própria Giros impacta na vida de muita gente, o que é muito interessante”.

E, pensando na sustentabilidade do mercado e no crescimento do mesmo como um todo, Bianca cita o movimento que a Giros fez nos últimos anos de trazer outros diretores para trabalhar com eles: “Na primeira metade da nossa história, a gente basicamente desenvolvia projetos da Giros. Mas aí fomos trazendo e nos interessando pelo trabalho de outros autores, que viram na Giros uma produtora interessante, que dá segurança para eles desempenharem seu papel autoral e usando todo o nosso suporte e experiência, de forma que viramos não só produtores das obras de outros autores, mas também consultores – de como produzir, desenvolver e lançar, isto é, a melhor estratégia para cada produto. São obras que a princípio não foram desenvolvidas dentro da produtora, mas que dialogam muito com o nosso portfólio e nosso interesse”.

Magalhães traz alguns exemplos, como o “Sexa”, primeiro trabalho de direção de Glória Pires; uma série sobre Carlinhos Brown com o cineasta Bruno Barreto; e ainda uma das principais novidades da produtora: um filme sobre Carmen Miranda, com Larissa Manoela no papel principal e parceria com a Globo. Silvio Guindane também já fez dois projetos de direção com a Giros, e Malu Mader fará com a Giros seu primeiro filme na direção também. “A gente foi atraindo muita gente boa. Não só diretores, mas toda a cadeia produtiva. Somos talvez uma das produtoras que mais cresceu exponencialmente entre 2016 e 2025, e muito em função da nossa obsessão de acordar todos os dias e trabalhar muito”.

Os números reforçam esse crescimento que o CEO destacou. Como resultados dos esforços de reposicionamento da Giros, considerando o período de 2016 a 2026, são 43 produções (uma média de 3,9 por ano) – 31 projetos de não-ficção/documentários (média de 2,8 por ano), sendo 14 longas e 17 séries, e 12 de ficção/dramaturgia (média de mais de uma produção por ano), sendo seis longas e seis séries.

Somente entre 2025 e 2026, serão 14 lançamentos – cinco neste ano e nove previstos para o ano que vem, o que será o recorde da Giros. Destes lançamentos, oito são de não-ficção/documentários (cinco longas e três séries) e seis são ficção/dramaturgia (três longas e três séries). O período também é marcado pelo maior volume de orçamento administrado pela Giros: mais de R$ 50 milhões em três longas de dramaturgia (“Sexa”, recém-lançado nos cinemas; “Cacilda Becker em Cena Aberta”, cujas filmagens começaram em junho deste ano; e “Carmen Miranda – Pra Você Gostar de Mim”, projeto para 2026, com direção de Bruno Barreto e filmagens no Brasil e nos EUA).

Importância da janela cinema

A Giros teve uma presença de destaque nos festivais de cinema, participando da última edição do Festival do Rio com quatro produções (“Sexa”, Massa Funkeira”, “Ninguém Pode Provar Nada” e “Com Causa”) e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com três (“Sexa”, “Massa Funkeira” e “Com Causa”).

Franca afirmou que o cinema é e sempre foi fundamental para a produtora, e que eles continuam trabalhando com essa janela e torcendo para que o mercado exibidor brasileiro amplie, o que ele considera essencial para o futuro. “Além disso, somos a favor das regras para que ele funcione bem, como a cota de tela, que deve permanecer, e torcemos para que a gente tenha outros mecanismos, para além dos mecanismos públicos. Queremos ver filmes brasileiros de diferentes gêneros atraindo a atenção do público”.

Entre os próximos projetos da Giros para cinema, estão o filme sobre Cacilda Becker, com Débora Falabella no papel principal; a primeira direção de Malu Mader, o longa “Em Busca do Presente”, uma coprodução com a Biônica; e a super produção sobre a Carmen Miranda, dirigida por Bruno Barreto. “Quando a gente decide ir para o cinema é para contar histórias de amplo alcance – que cheguem a um público maior e toquem na identificação dos brasileiros pela emoção, história e identidade. O cinema para nós representa isso, essa janela de identificação“, disse Bianca.

Magalhães, por sua vez, alerta que o cinema ainda é um funil muito apertado: “A realidade dos exibidores é cruel e perversa – pela quantidade, pela distribuição e pela concorrência que temos hoje”. Mas ele também celebra a possibilidade de longevidade que o streaming trouxe para as obras. “Assim, filmes que originalmente eram para cinema são mais vistos. No passado, eles estavam fadados a pequenos canais a cabo. Saíam do cinema e não tinham janela de distribuição pela. O streaming permitiu uma cauda longa de exibição para além da própria sala”.

E o streaming…

É claro que, ao falar de streaming, naturalmente surge o tema da regulamentação. “Essa trincheira político-regulatória já existe há muitos anos. Só no tempo que a Giros existe, uma série de artigos, como o 39, 3ºA, 1ºA, foram criados ou aprimorados. E todos esses processos foram longas negociações políticas entre o setor e os players. O advento do streaming obrigou a gente a pensar nessa nova configuração. A tecnologia sempre puxou a discussão. Ela cria a demanda e a regulação tem que ir atrás”, observou Franca. Para ele, diante desses desafios, os profissionais do mercado devem discutir em conjunto e produzir consensos – o que é difícil, claro – e avançar nesses consensos pensando no futuro do setor, e não nas particularidades de cada um“A lei que está sendo discutida é ideal? Não, mas é um começo. E não significa que a discussão se encerra. A tecnologia está acelerando, não sabemos o que vem por aí. Mas o setor sabe que tem que regular, se proteger e fomentar. Que a economia criativa gera empregos e mexe na balança comercial. Que é melhor exportar do que só importar. Isso tudo conta a favor quando a gente se profissionaliza enquanto um setor produtivo”.

Magalhães, por sua vez, avalia que o streaming no Brasil ainda tem um turn over muito alto de equipe e estratégias pouco claras para o audiovisual brasileiro no sentido de geração de conteúdos, de ter as produtoras como grande aliadas e apostar no desenvolvimento. “Temos uma crítica específica ainda a essa primeira geração de relacionamento entre plataformas de streaming e produtoras. Vem amadurecendo, mas ainda é frágil a nosso ver”.

Mudanças na política e perspectivas de futuro

A discussão político-regulatória nos lembra que, no ano que vem, serão realizadas novas eleições estaduais e presidenciais. Pensando nisso, o CEO da Giros reforça a importância da cultura e o tamanho do retorno que ela gera para a economia dos municípios, estados e para o país. “É uma indústria que tem obrigação de prestar contas. Ela é escrutinada todos os dias, mas representa muito no PIB e, mesmo assim, tem um olhar completamente distorcido do ponto de vista de economia e retorno. É muito importante para o país e para o mundo, é o tal do soft power. E tem também a empregabilidade que a economia criativa como um todo gera. Portanto, nossa missão – como associações, empresas e o setor – é expandir cada vez mais aos candidatos que as políticas culturais públicas são talvez um dos grandes negócios do século XXI. Inclusive no mundo de inteligência artificial e geração de conteúdos. Hoje, existe uma dicotomia entre uma política muito envelhecida em termos de compreensão – talvez a imprensa, especialmente as editorias de economia, ainda não esteja suficientemente madura para entender o potencial desse setor. Precisamos começar a cacarejar nossa importância econômica e estratégica. A gente vê a eleição do ano que vem, as estaduais e principalmente a presidencial, como oportunidade. E que o setor possa se organizar para ir consolidando esse conceito. Essa compreensão ainda é muito dura”.

Em relação às perspectivas para o futuro, Bianca enfatiza que há outras fontes de recursos com as quais o país poderia estar mais afiado. “A gente sabe que o mercado dos serviços de streaming é muito afunilado. Temos basicamente cinco portas para bater, e nós somos muito produtores. O Brasil é um dos maiores mercados espectadores, mas também tem muitas produtoras, então o streaming não vai conseguir absorver todas as nossas histórias. A gente precisa conseguir contar com as políticas públicas e se organizar para isso. Os calendários precisam ser cumpridos”, destaca. A produtora cita que o PAI – Plano Anual de Investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual, por exemplo, teve seu calendário completamente descumprido. “Não conseguimos mais organizar nosso ano empresarial e a gestão dos nossos recursos porque não podemos prever a entrada dos recursos, a abertura dos editais e a divulgação de resultados. Esse é um fator dificultador que precisa muito melhorar. Para que ainda que a gente não ganhe o edital, tenha a possibilidade de aplicar”.

Outra questão que a Giros vem exercitando nos últimos anos é o sistema de renúncia fiscal das empresas. “Elas têm um dinheiro que pode ser investido em cultura, mas existe um bloqueio no Brasil. As empresas não enxergam esse investimento como valoroso. Temos conseguido furar essa bolha, fazer algumas coproduções, usar verbas de renúncia fiscal dessas empresas como apoio para projetos nossos, mas esse mercado podia ser muito maior”, pontua Bianca. “Não sabemos como serão os próximos anos, qual governo assumirá o país – e portanto qual será a diretriz para a nossa cultura – mas o fato é que existem outras possibilidades que precisam ser cada vez mais profissionalizadas, para que os nossos negócios sejam sustentáveis. Já entendemos que não podemos depender de edital e de política pública, porque isso depende justamente do governo. Também sabemos que o streaming não vai garantir a produção de todos os nossos projetos. No começo, quando eles entraram no Brasil, ficou todo mundo eufórico, teve muita produção acontecendo. Mas se essa fusão de Netflix e WBD for pra frente, por exemplo, ninguém sabe o que pode acontecer, porque afunilará ainda mais. Nossos recursos precisam vir de outras fontes, e esse é um grande alerta que gostaríamos de fazer”.

Vale falar em tendências?

Analisando as próximas tendências em termos de temáticas, gêneros e formatos, Magalhães ressalta que a crença da produtora é que o bom conteúdo terá sempre o seu lugar. “No nosso caso, as histórias brasileiras que queremos contar. O que vamos permear é entronizar as tecnologias, mas sempre na neurose de contar boas histórias e de não perder o eixo central do nosso negócio”.

Já Franca brinca que tendência é “um negócio muito louco”. Ele diz: “Tem essa história de que agora é true crime. Aí bate um vento, agora é coming of age. Depois é comédia, mas comédia já foi, depois volta. Enfim. Acho que nada resiste a uma boa ideia. Quando é chegada a hora daquela ideia, ela fica de pé. O filme da Carmen Miranda, por exemplo. Ela está aí na pista há muito tempo, mas chegou a hora de fazer esse filme. Eu entendo o outro lado do balcão, claro. Imagine falar que vai fazer uma história sobre a ditadura brasileira com uma mulher que teve o marido preso e desaparecido. Você faz um pitching desse e, do lado de lá, eles falam ‘mas a gente quer comédia’. O filme foi a maior bilheteria brasileira dos últimos anos e ganhou o Oscar, só isso. O filme aconteceu. Você tem que acreditar, saber produzir e ter uma boa história, uma lógica pra ela. A tendência, às vezes, vem ao contrário. Sou muito cético em relação a tendências”.

Bianca olha para os sucessos recentes do cinema nacional, tanto de público quanto de crítica, e conclui que há uma coisa em comum: são filmes de personagem. “Cada vez mais estamos testemunhando no cinema e na televisão recortes históricos importantes para a humanidade ou para a cultura de um país sendo contados por uma perspectiva muito humana, muito subjetiva. Com ‘Sexa’, por exemplo, estamos falando sobre etarismo, mas a partir de uma perspectiva muito sensível da personagem da Glória Pires. ‘O Agente Secreto’ é isso também. Tem existido um interesse do audiovisual mundial em investigar mais a psique humana, a visão do humano sobre os eventos, e pegar carona nessa perspectiva para contar grandes histórias. Vejo isso como uma tendência seguindo pelo próximo ano. Cada vez mais a gente busca identificação, porque todos nós somos seres humanos, temos os mesmos sentimentos e somos biologicamente iguais. Então precisamos nos ver nas telas com verdade, e há uma busca por essa verdade – não pelo clichê ou pelos estereótipos. As pessoas estão sendo retratadas cada vez mais com naturalidade e verdade“, celebrou.

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